domingo, 28 de fevereiro de 2021

Vamos ler? Esta é a história de um urso especial!


O Urso azul  dos Himalaias



Nos cumes nevados dos Himalaias, no Nepal, nasceu há muito tempo um urso de pelagem azul, patas e garras prateadas e olhos vermelho-rubi. Levava uma vida solitária e tranquila. Durante o inverno, dormia profundamente na sua confortável caverna e, quando chegava a primavera, a natureza brindava-o com um sortido de framboesas, bagas goji e outras plantas frescas. Em contrapartida, no outono, comia bolotas, nozes e castanhas que recolhia das árvores. Era um urso tão extraordinário que os reis haviam oferecido grandes recompensas a quem conseguisse capturá-lo.

Certo dia de inverno, um intrépido caçador saiu à procura do urso azul, mas, a meio do caminho, surpreendido por uma tempestade de neve muito forte, perdeu-se no bosque. Depois de andar durante muito tempo e vendo que não encontrava o caminho de volta, começou a gritar:

 - Socorro, socorro, socorro!

Aqueles gritos desesperados acordaram o urso azul do seu sono de hibernação. O sofrimento daquele homem tocou-lhe o coração. Um pouco estremunhado, saiu da caverna, foi buscá-lo, encontrando-o meio enterrado na neve a ponto de morrer congelado.

Agarrou-o com as suas patas prateadas, levou-o para a caverna e envolveu-o com os seus braços grandes e peludos para lhe dar calor.

Aquele abraço cálido reanimou o homem que, abrindo os olhos, se assustou. Mas o urso, olhando-o com ternura, sorriu-lhe e disse:

                 -   Quando te sentires melhor, poderás regressar a casa, mas tens de me prometer que não dirás a ninguém onde vivo.

-  Prometo! — respondeu o caçador.

Mas, enquanto descia a montanha, o desejo de riqueza voltou a surgir na sua mente e, ao chegar à cidade, foi a correr contar ao rei.

No dia seguinte, um grupo de caçadores da casa real dirigiu-se às montanhas para capturar o urso azul. O que fizeram sem demoras.

Quando, finalmente, ficou diante do rei, o urso azul declarou:

                        -    Majestade, fui traído. Salvei a vida do caçador e, em troca, pedi-lhe que não revelasse a ninguém onde ficava a minha caverna. Mas, por culpa do ouro, faltou à sua palavra, e isso irá fazê-lo infeliz. Lamento muito.

O rei ficou comovido com as palavras do urso.

-  Tragam-me o caçador imediatamente! — ordenou.

E a guarda real apressou-se a trazer o caçador à presença do rei.

                         -    Caçador, salvei-te a vida quando estavas a ponto de morrer de frio e, em troca, prometeste que me protegerias. Lembras-te? — perguntou o urso.

O caçador, virando-lhe as costas com desprezo, dirigiu-se ao rei:

                         -    Majestade, aqui tendes o urso que queríeis. Sabe falar, mas não passa de uma besta. Podeis matá-lo, tirar-lhe a pele e comer a sua carne. Creio, pois, que mereço receber a minha recompensa.

O rei e o urso olharam-se, olhos nos olhos.

Majestade — disse o urso —, podeis castigar este homem se achardes conveniente mas, peço-vos, não o mateis.

Depois de um prolongado silêncio, o rei tomou uma coroa de flores e, pendurando-a ao pescoço do urso, disse:

-  Agradeço-te por me teres mostrado o caminho da generosidade. E, dirigindo-  - se à corte, ordenou:

                    -  Libertem o urso azul e escoltem-no, com todas as honras, de volta às montanhas onde vive. E, no que se refere a este caçador, expulsai-o imediatamente das nossas terras. Deixo-lhe a vida, que vale mais do que todo o ouro do mundo.

Escoltado pelos soldados do rei, o urso azul regressou às montanhas dos Himalaias onde viveu em paz e liberdade até ao fim dos seus dias.



Conta  a lenda  que  este  urso  foi  visto  por alguns  monges  do  Tibete  durante  os seus  longos  retiros nas montanhas dos Himalaias, mas que isso aconteceu muitos, muitos anos...

 

 


 


Marta Millà Jataka: seis cuentos budistas Barcelona: Fragmenta, 2017 (Tradução e adaptação)

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