terça-feira, 22 de dezembro de 2020

  Conto: Uma estrela - Manuel Alegre

"Todos os anos, pelo Natal, eu ia a Belém. A viagem começava em Dezembro, no princípio das férias. Primeiro pela colheita do musgo, nos recantos mais húmidos do jardim. Cortava-se como um bolo, era bom sentir as grandes fatias despegarem-se da areia, dos muros ou dos troncos das árvores velhas, principalmente da ameixieira. Enchia-se a canastra devagar, enquanto a avó ia montando o que se chamaria hoje as estruturas, ou mesmo infraestruturas, junto da parede da sala de jantar que dava para o jardim. Eram caixotes, caixas de chapéus e de sapatos viradas do avesso, tábuas, que pouco a pouco ela ia cobrindo de musgo, ao mesmo tempo que fazia carreiros e caminhos com areia e areão. Mais tarde os rios e os lagos, combocados de espelhos antigos, de vidros ou mesmo de travessas cheias de água. Até que todos os caixotes, caixas e tábuas desapareciam. Ficavam montanhas, planícies, rios, lagos. Era uma nova criação do mundo. Aqui e ali uma casinha ou um pastor com suas cabras. E todos os caminhos iam para Belém.

Não era como o presépio da Igreja que estava sempre todo pronto, mesmo antes de o Menino nascer. A cabana, a vaca, o burro, os três reis do Oriente. Maria, José, Jesus deitado nas palhinhas. Via-se logo que era a fingir. Não o da avó, que era mais do que um presépio, era uma peregrinação, uma jornada mágica ou, se quiserem, um milagre. Nós estávamos ali e não estávamos ali. De repente era a Judeia, passeávamos nas margens do Tiberíades, andávamos pelo Velho Testamento, João Baptista baptizava nas águas do Jordão e aquele monte, ao longe, podia ser o Sinai ou talvez o último lugar de onde Moisés, sem lá entrar, viu finalmente a terra onde corria o leite e o mel. Mas agora era o Novo Testamento. A avó ia buscar as figuras ao sótão, eram bonecos de barro comprados nas feiras, alguns mais antigos, de porcelana inglesa, como aquele caçador que a avó colocava à frente dizendo: Este é o pai. Seguia-se a mãe, de vestido comprido, dir-se-ia que ia para o baile, mas não, saía de cima de uma mesinha da sala de visitas e agora estava ao lado do pai, olhando levemente para trás onde, entretanto, a avó já tinha colocado figuras mais toscas, eu, a minha irmã, os primos, alguns amigos, todos a caminho de Belém.

- E a avó?, perguntava eu.

- Eu já estou velha para essas andanças.

De dia para dia mudávamos de lugar. E todas as manhãs deparávamos com novas casas, mais rebanhos, pastores, gente que descia das serras, atravessava os rios e os lagos. Os caminhos ficavam cada vez mais cheios. E todos iam para Belém. À noite tremulavam luzes. Acendiam e apagavam. Mas ainda não se via a cabana, nem Maria, nem José.

Então uma noite, entre as estrelas do céu, aparecia uma que brilhava mais que todas.

- Esta é a estrela, dizia a avó.

E era uma estrela que nos guiava. Na manhã seguinte lá estavam eles, o três rei do Oriente, Magos, explicava o pai, que também não dizia Pai Natal, dizia S. Nicolau, talvez por influência de uma misse de origem russa que em pequeno lhe falava de renas e trenós e de S. Nicolau atravessando as estepes.

Cheirava a musgo na sala de jantar. Cheirava a musgo e a lenha molhada que secava em frente do fogão. E os Magos lá vinham, a pé, de burro, de camelo. Traziam o oiro, o incenso, a mirra. Às vezes nós, os mais pequenos, juntávamo-nos e cantávamos: “Os três reis do Oriente / Já chegaram a Belém.”

- Não chegaram nada, atalhava a avó, ainda não.

Estávamos cada vez mais perto. E também nervosos. Confesso que às vezes fazia batota. Empurrava-nos um pouco mais para a frente, para mais perto de Belém e do lugar onde eu sabia que mais tarde ou mais cedo a avó ia pôr a cabana. Mas ela descobria.

- Não lucras nada com isso, podes apressar toda a gente, não podes apressar o tempo.

Cada vez havia mais luzes na Judeia. Por vezes surgiam novos lagos, eram mistérios da minha avó. E a estrela lá estava, a grande estrela de prata que brilhava mais do que todas as outras, às vezes eu ia à janela e via a projecção daquela estrela, ficava confuso, já não sabia se era a estrela da sala ou uma estrela do céu, era uma estrela nova, uma estrela de prata, era uma estrela que nos guiava. No céu, na sala, na Judeia, talvez dentro de nós.

Até que chegava o primeiro dos grandes momentos solenes. A avó chamava-nos ao sótão (nós dizíamos forro), abria uma velha arca e desempacotava a cabana. Depois, muito comovida, quase sempre com lágrimas nos olhos, as figuras de Maria e José.

- Não há nada tão antigo nesta casa, já eram dos avós dos meus avós.

Impressionava-me sobretudo o manto muito azul de Maria e o rosto magro, quase assustado, de José. A avó limpava-os com muito cuidado e mandava-nos sair. Nunca nos deixou ver o resto.

À noite, quando regressávamos da missa do galo, a que a avó não ia, chegávamos a casa e finalmente estávamos em Belém. A estrela brilhava intensamente sobre a cabana, Maria e José debruçavam-se sobre o berço, onde Jesus, todo rosado, deitado nas palhinhas, agitava os braços e as pernas, envolvido pelo bafo quente dos animais, enquanto os três reis do Oriente, agora sim, chegavam a Belém para depositar aos pés do Menino o oiro, o incenso, a mirra. E vinham os pastores, e vinha o pai, de caçador, a mãe, de vestido de baile, e vínhamos nós, eu, a minha irmã, os primos, não éramos de porcelana nem de barro, estávamos ali em carne e osso, era noite de Natal, uma estrela nos guiava, brilhava sobre a Judeia e sobre o presépio, brilhava cá fora entre as estrelas, brilhava dentro de nós. Naquela noite, naquele momento, nós não estávamos na sala de jantar em frente do presépio, tínhamos chegado finalmente a Belém para adorar o Menino ao lado de Maria e José e dos três reis do Oriente, Magos, não conseguia deixar de corrigir o meu pai. Mas mágica, verdadeiramente mágica era a avó. Era ela que fazia o milagre da transfiguração, trazia o Natal para dentro de casa e levava-nos a todos até Belém. O cheiro a musgo e a lenha. Os montes, os vales, os rios, os lagos. Caminhos e caminhos que iam para Belém. E a estrela de prata, a estrela que nos guiava. Era uma estrela no céu, dentro de casa, dentro de nós. Pela mão da avó ela brilhava. Pela sua magia Belém estava dentro de casa. E a casa também ia até Belém.

Mais tarde, muito mais tarde, eu estava no exílio. Na noite de Natal os revolucionários ficavam tristes e nostálgicos. Talvez recordassem outras avós, outros presépios, outros lugares. Reuniam-se em casa deste ou daquele, improvisava-se uma árvore de Natal, trocavam-se presentes. Mas ninguém, nem mesmo os mais duros, os que faziam gala em dizer que o Natal para eles não significava nada, nem mesmo esses conseguiam disfarçar uma sombra no olhar. Saudade, dir-se-á. Mas talvez fosse mais do que saudade e solidão e o pior de todos os exílios que é o de se sentir estrangeiro no mundo. Talvez fosse a consciência de que, para lá de todas as crenças ou não crenças, havia um irremediável sentimento de perda. Muitas vezes me perguntei o que seria. Mas não conseguia responder. Sentia o mesmo aperto, o mesmo buraco por dentro, o mesmo sentimento de algo para sempre perdido.

Uma noite de Natal, em Paris, eu estava sozinho. Comprei uma garrafa de vinho do Porto, mas não fui capaz de bebê-la assim, completamente só, num quarto de criada de um sexto andar numa velha rua do Quartier Latin. Peguei na garrafa e fui até aos Halles. Procurei o bistrot onde costumava comer uma omelete de fiambre. Felizmente estava aberto. Pedi a omelete e abri a garrafa. Havia mais três solitários no bistrot, um velho de grandes barbas, um tipo com cara de eslavo, um africano. Convidei-os para partilharem comigo a garrafa de Porto, que não resistiu muito tempo. Encomendámos outras bebidas.

- Conta uma história de Natal do teu país, pediu o velho.

- Só se for a do presépio da minha avó.

- Então conta.

Eu contei. Era já muito tarde e o patrão disse-nos que queria fechar. Chegados à rua o africano apontou o céu e disse-me: Olha.

E eu vi. Uma estrela que brilhava mais que as outras estrelas. Era uma estrela de prata. A estrela da avó. Brilhava no céu, brilhava outra vez dentro de mim, quase posso jurar que brilhava dentro dos outros três.

Então eu perguntei ao africano como se chamava. E ele respondeu:

- Baltazar.

Perguntei ao velho e ele disse:

- Melchior.

E sem que sequer eu lhe perguntasse o eslavo disse:

- O meu nome é Gaspar.

Era noite de Natal e talvez ainda por magia da avó eu estava na rua, em Les Halles, com os três reis do Oriente, Magos, diria o meu pai.

- E agora? perguntei a Baltazar.

- Agora, respondeu o africano apontando a estrela, agora vamos para Belém."


Manuel Alegre


                                                

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

 E eis que já estamos no final do 1.º período. Foi diferente, como têm sido os nossos dias nos últimos 9 meses.

Os sorrisos escondidos, as vozes disfarçadas. Aos poucos, os risos foram crescendo e tornaram-se gargalhadas e as brincadeiras ficaram mais animadas.

Que o espírito de Natal nos envolva e perdure nos próximos tempos. Que a esperança se torne realidade, que os desejos de dias mais felizes se concretizem.  Afinal, é Natal e não dezembro, como diz o poeta, e o tempo de ser bom precisa estender-se aos restantes meses.


domingo, 6 de dezembro de 2020

Hoje recordamos o poema " As Meninas" , de Cecília Meireles, para lembrar que muitas coisas nos deixam saudade. Contudo, são as coisas  simpáticas e doces que mais recordamos e das quais sentimos mais falta. Tal como a doçura  e simpatia da menina Maria, a menina que simplesmente nos diz "Bom dia".


As meninas

Arabela

abria a janela. 

Carolina

erguia a cortina.


E Maria

olhava e sorria:

“Bom dia!”

 

Arabela

foi sempre a mais bela.

Carolina,

a mais sábia menina.


E Maria

apenas sorria:

“Bom dia!”

 

Pensaremos em cada menina

que vivia naquela janela;

uma que se chamava Arabela,

uma que se chamou Carolina.

 

Mas a profunda saudade

é Maria, Maria, Maria,

que dizia com voz de amizade:

“Bom dia!”





quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

3 de dezembro - Dia Internacional da Pessoa com Deficiência

 

Assinala-se a 3 de dezembro o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.

Deixo-vos dois vídeos diferentes, mas alusivos ao tema.

No primeiro podem ver Ian, uma curta metragem que conta a história verídica (real) de uma criança argentina nascida com paralisia cerebral, cuja linguagem e mobilidade foram afetadas. Em 2012, a sua mãe, Sheila, criou a Fundação Ian para alertar as pessoas para a deficiência infantil, o bullying e isolamento que as crianças como o seu filho Ian sofrem.

Todo o ser humano, ainda que “fisicamente perfeito” tem alguma necessidade especial, mesmo que apenas emocional, porque somos frágeis e limitados!  Ian – sou eu, és tu e somos todos nós!

A curta-metragem, iniciativa da Fundação Ian, mostra como é viver isolado, sofrer intimidações constantes, só por ser diferente, e transmite a mensagem de que é preciso acabar com a discriminação. Devemos promover e respeitar a inclusão, seja ela de que tipo for. Todos desejamos, como seres relacionais que somos, pertencer a um grupo, a um espaço, criar laços de amizade.

 No segundo temos uma menina, Scarlett que deseja ser bailarina, mas cujo sonho é quase impossível por  causa de um cancro que lhe afetou os ossos. 

É uma curta metragem sobre a esperança e a luz que devemos sempre manter acesas, apesar dos momentos mais escuros e difíceis.














segunda-feira, 30 de novembro de 2020

85.º Aniversário da morte de Fernando Pessoa.

 

Passam hoje 85 anos da morte de Fernando Pessoa.

Fernando Pessoa (1888-1935) foi um dos mais importantes poetas da língua portuguesa e figura central do Modernismo português. Poeta lírico e nacionalista cultivou uma poesia voltada aos temas tradicionais de Portugal e ao seu lirismo saudosista, que expressa reflexões sobre seu “eu profundo”, suas inquietações, sua solidão e seu tédio.

Fernando Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo, criou heterônimos - poetas com personalidades próprias que escreveram sua poesia. nasceu em Lisboa, Portugal, no dia 13 de junho de 1888. Era filho de Joaquim de Seabra Pessoa, natural de Lisboa, e de Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, natural dos Açores. Ficou órfão de pai aos 5 anos de idade.

Seu padrasto era o comandante militar João Miguel Rosa, que foi nomeado cônsul de Portugal em Durban, na África do Sul. Acompanhando a família Fernando Pessoa seguiu para a África do Sul, onde recebeu educação inglesa no colégio de freiras e na Durban High School.

Em 1901, Fernando Pessoa escreveu seus primeiros poemas, em inglês. Com 16 anos já havia lido os grandes autores da língua inglesa, como William Shakespeare, John Milton e Allan Poe.

Em 1902 a família voltou para Lisboa. Em 1903 Fernando Pessoa retornou sozinho para a África do Sul e frequentou a Universidade de Capetown (Cabo da Boa Esperança).

Pessoa regressou a Lisboa em 1905 e matriculou-se na Faculdade de Letras, porém deixou o curso no ano seguinte. A fim de dispor de tempo para laer e escrever, recusou vários bons empregos. Só em 1908 passou a trabalhar como tradutor autônomo em escritórios comerciais.

Em 1912, Fernando Pessoa estreou como crítico literário na revista “Águia” e como poeta em “A Renascença” (1914). A partir de 1915 liderou o grupo mentor da revista “Orpheu”, entre eles, Mário de Sá-Carneiro, Raul Leal, Luís de Montalvor, Almada-Negreiros e o brasileiro Ronald de Carvalho.

Fernando Pessoa foi vários poetas ao mesmo tempo. Tendo sido "plural", como se definiu, criou personalidades próprias para os vários poetas que conviveram nele.

 




Autopsicografia

"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração."

 

Tabacaria

 

"Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

1.º de Dezembro – Restauração da Independência

 





 O dia 1 de dezembro é feriado nacional. Sabes porquê?  

Como sabes, durante cerca de 60 anos, no chamado período do ‘’Domínio Filipino’’,  o Rei de Espanha era simultaneamente o Rei de Portugal. Este ocupou o nosso país e oprimiu-o. Mas, na manhã de 1 de dezembro de 1640, 120 conspiradores (nobres portugueses) invadiram o Paço da Ribeira, em Lisboa, para derrubar a dinastia espanhola que governava o país desde 1580.

É nesta data que se relembra a ação dos 120 conspiradores (nobres portugueses) que invadiram o Paço da Ribeira, em Lisboa, para derrubar a dinastia espanhola que governava o país desde 1580. Miguel de Vasconcelos, que representava os interesses castelhanos, foi morto a tiro e atirado pela janela. Foi do balcão do Paço que foi proclamada a coroação do Duque de Bragança, futuro D. João IV, iniciando assim a IV Dinastia – a Dinastia de Bragança.

No entanto, a Restauração da Independência só foi reconhecida pelos espanhóis 27 anos depois, com a assinatura do Tratado de Lisboa.

Este é  o feriado civil mais antigo, tendo sobrevivido à Primeira República, ao Estado Novo e à chegada da democracia.

É costume comemorar-se este feriado na Praça dos Restauradores, em Lisboa com honras de Estado onde também se comemora o Dia da Bandeira. A partir de 2013, como parte de um pacote de medidas que visavam aumentar a produtividade, o governo português tinha decidido eliminar o feriado de 1 de dezembro. No entanto, a comemoração da Restauração da Independência Portuguesa foi retomada como um feriado em 2016.

 Vê o vídeo para saberes um pouco mais. Bom feriado

https://youtu.be/H6eBGHXFuyQ

terça-feira, 24 de novembro de 2020

O Dia Mundial da Ciência assinala-se a 24 de novembro e tem como objetivo enaltecer o papel da ciência para o desenvolvimento humano, assim como destacar grandes nomes da ciência, colocar desafios para o futuro e fomentar o gosto pela ciência nas gerações mais novas.

A palavra ciência deriva do latim scientia cuja tradução significa conhecimento e representa “qualquer conhecimento ou prática sistemáticos”.

A origem da ciência surgiu numa tentativa de procurar respostas para as perguntas curiosas da humanidade. O homem procurou saber o porquê das coisas. Alguns dedicaram as suas vidas inteiras à ciência procurando compreender o mundo à sua volta.

Ao longo dos tempos a ciência tem promovido o desenvolvimento humano, procurando melhorar a qualidade de vida das pessoas.

A ciência é, sem dúvida, uma ferramenta imprescindível para continuidade do progresso!

Em Portugal, foi criado em 24 de novembro de 1996 o Dia Nacional da Cultura Científica. Foi escolhido este dia pois foi neste data mas em 1906 que nasceu Rómulo de Carvalho, o professor de Física e Química responsável pela promoção do ensino de ciência e da cultura científica em Portugal. Rómulo de Carvalho foi também poeta, sob o pseudónimo de António Gedeão. Sugerimos que ouças um dos seus poemas, alusivo à ciência e também à igualdade.

 


https://youtu.be/9kvoUd9utFM

 

domingo, 22 de novembro de 2020

Casa da Mariquinhas - Coro Feminino do Conservatório de Música de Paredes

 E porque devemos apoiar os músicos da terra, muitas delas nossas ex-alunas, um bocadinho do que se faz , mesmo em tempo de quarentena, por Paredes. O Coro Feminino do Conservatório de Música de Paredes.

Dia do Músico e de Santa Cecília/ Concertos em Casa · Coro Infantil Casa da Música


No dia 22 de novembro, comemora-se o Dia do Músico. É também o dia da padroeira dos

músicos, Santa Cecília.

Santa Cecília é a santa da Igreja Católica com mais basílicas e igrejas na Europa. É a padroeira da música sacra, dos músicos e dos poetas. Diz-se que Santa Cecília cantou a Deus enquanto morria martirizada e que mesmo após resistir aos três golpes no pescoço ainda se ouviam os seus cânticos.

Que haja sempre música entre nós para que a vida seja mais bonita.


sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Dia Internacional dos Direitos da Criança -20 novembro

 A 20 de novembro comemora-se o Dia Internacional dos Direitos da Criança. Mas quais são esses direitos?

Hoje, as crianças têm direito a ser ouvidas, a dar a sua opinião e a participarem nos assuntos da sociedade que lhes dizem respeito. Mas há 52 anos não era assim. Foi a Declaração dos Direitos da Criança que veio mudar tudo. Aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a Declaração dos Direitos da Criança é uma carta, adaptada da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que estabelece os direitos e liberdades atribuídos às crianças. Assim, os governos de todos os países que assinaram esta carta estão obrigados a fazer leis de forma a garantir que estes direitos são respeitados. Mas que direitos são esses? Ei-los:

·        Todas as crianças têm o direito à vida e à liberdade. 

·        Todas as crianças devem ser protegidas da violência doméstica, do tráfico humano e do trabalho infantil.

·        Todas as crianças são iguais e têm os mesmos direitos, não importando a sua cor, raça, sexo, religião, origem social ou nacionalidade.

·        Todas as crianças devem ser protegidas pela família e pela sociedade.

·        Todas as crianças têm direito a um nome e a uma nacionalidade.

·        Todas as crianças têm direito a alimentação, habitação e atendimento médico.

·        As crianças portadoras de deficiências, físicas ou mentais, têm o direito à educação e aos cuidados especiais.

·        Todas as crianças têm direito ao amor, à segurança e à compreensão dos pais e da sociedade.

·        Todas as crianças têm direito à educação, que deve ser gratuita e obrigatória. E têm direito a brincarem.

·        Todas as crianças têm direito a não serem violadas verbalmente ou serem agredidas por pais, avós, familiares, ou mesmo a sociedade. 

Quarenta anos depois desta Declaração, uma série de países assinaram um outro documento, que alarga os direitos das crianças. Chama-se Convenção sobre os Direitos das Crianças e diz que as crianças (todas as pessoas com menos de 18 anos) devem ser ouvidas em assuntos que lhe dizem diretamente respeito, nomeadamente em tribunal. Acrescenta também que as crianças têm o direito de exprimirem livremente a sua opinião e de estarem informadas.

Clica nos links para veres mais sobre este assunto.

https://youtu.be/2txldr_OVcg

https://youtu.be/KMG1BWFRTmg

https://youtu.be/RjScqfGTpoQ

https://drive.google.com/file/d/14ShSGAyDldqD7XaOG2MgsF9UyLWWWMVM/view?usp=sharing





quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Uma História Tradicional por dia não sabe o bem que lhe fazia - Episódio 2

Uma nova Palavra

 

Palavra. O que é?  Qual a definição no dicionário? 

Unidade linguística com um significado, que pertence a uma classe gramatical, e corresponde na fala a um som ou conjunto de sons e na escrita a um sinal ou conjunto de sinais gráficos; Mensagem oral ou escrita

 in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, 

https://dicionario.priberam.org/palavras [consultado em 18-11-2020].

Hoje em dia, há algumas palavras que se repetem quase até à exaustão: covid, pandemia, confinamento...

Mas todos queremos que estas palavras deixem de fazer parte do nosso vocabulário diário e passem a ser lembranças de uma fase menos boa.

Queremos que palavras como "riso", abraço", "encontro" voltem a ter o papel principal. 

Como diz o João Pedro Mésseder:

 "quero uma nova palavra

aberta de par em par

como o rosto de um menino

com paisagens no ouvido

e cantigas no olhar."


 




sexta-feira, 13 de novembro de 2020

KINDNESS DAY - DIA DA DELICADEZA/BONDADE

 

Foi em 1998 que, em Tóquio, no dia 13 de novembro, que se realizou a primeira conferência do World Kindness Movement (Movimento Mundial pela Bondade). O objetivo era “criar um mundo mais bondoso e pleno de compaixão”.

Hoje em dia o Kindness Day celebra-se em vários países do mundo, tais como o Canadá, a Austrália, o Japão, a Nigéria e os Emirados Árabes Unidos. Em certos países oferecem-se flores neste dia, quer a conhecidos, quer a desconhecidos.

Ao celebrar este dia pretende-se fazer crescer no mundo o sentido de bondade das pessoas. Um simples obrigado, um belo sorriso ou um gesto carinhoso são pequenas ações que podem fazer toda a diferença. Espera-se que se plantem as raízes para se verificar a bondade durante o resto do ano. Um simples obrigado, um belo sorriso ou um gesto carinhoso são pequenas ações que podem fazer toda a diferença.

Este ano não é o mais propício para distribuir abraços ou oferecer flores mas podemos sempre:

 

ü  Oferecer um gesto simples lá por casa, lavar o chão, levar o lixo, tratar da loiça coisas simples;

ü  Mandar uma mensagem a alguém, só perguntar “Como andas? Como está tudo?”

ü   Dar um elogio ao vizinho, mas com as devidas distâncias;

ü   Sorrir a todas as pessoas com quem te cruzes! Ainda que vás de máscara;

ü  Agendar uma sessão de zoom ou skype pra matar saudades;

ü   Ligar aos primos, irmãos ou tios;

Assim como a imensidão do mar é formada por gotas, gestos simples são capazes de promover grandes transformações.




terça-feira, 10 de novembro de 2020

MARIA CASTANHA António Torrado

 

O céu estava cinzento e quase nunca aparecia o sol, mas enquanto não chovia os meninos iam brincar para o jardim.

Um jardim muito grande e bonito, com uma grade pintada de verde toda em volta, de modo que não havia perigo de os automóveis entrarem e atropelaremos meninos que corriam e brincavam à vontade, de muitas maneiras: uns andavam nos baloiços e nos escorregas, outros deitavam pão aos patos do lago, outros metiam os pés por entre as folhas secas e faziam-nas estalar – crac,crac - debaixo das botas, outros corriam de braços abertos atrás dos pombos, que se levantavam e fugiam, também de asas abertas.

Era bom ir ao jardim. E mesmo sem haver sol, os meninos sentiam os pés quentinhos e ficavam com as bochechas encarnadas de tanto correr e saltar.

Uma vez apareceu no jardim uma menina diferente: não tinha bochechas encarnadas, mas uma carinha redonda, castanha, com dois grandes olhos escuros e brilhantes.

- Como te chamas? - perguntaram-lhe.

- Maria. Às vezes chamam-me Maria Castanha.

- Que engraçado... Maria Castanha! Queres brincar?

- Quero.

Foram brincar ao jogo do apanhar. A Maria Castanha corria mais do que todos.

- Quem me apanha? Ninguém me apanha! Ninguém apanha a Maria Castanha!

Ela corria tanto. Corria tanto que nem viu o carrinho do vendedor de castanhas que estava à porta do jardim, e foi de encontro a ele. Pimba! O saco das castanhas caiu e espalhou-as todas à reboleta pelo chão. A Maria Castanha caiu também e ficou sentada no meio das castanhas.

- Ah. Minha atrevida! – gritou o vendedor de castanhas todo zangado.

- Foi sem querer – explicaram os outros meninos.

- Eu ajudo a apanhar tudo. – disse Maria Castanha, de joelhos a apanhar as castanhas caídas.

E os outros ajudaram também. Pronto. Ficaram as castanhas apanhadas num instante.

- Onde estão os teus pais? – perguntou o vendedor de castanhas à Maria Castanha.

- Foram à procura de emprego.

- E tu?

- Vinha à procura de amigos.

- Já encontraste: nós somos teus amigos – disseram os meninos.

- Eu também sou – disse o vendedor de castanhas.

E pôs as mãos nos cabelos da Maria Castanha, que eram frisados e fofinhos como a lã dos carneirinhos novos. Depois, disse:

- Quando os amigos se encontram, é costume fazer uma festa. Vamos fazer uma festa de castanhas. Gostam de castanhas?

- Gostamos! Gostamos! – gritaram os meninos.

- Não sei. Nunca comi castanhas, na minha terra não há. – disse Maria Castanha.

- Pois vais saber como é bom.

E o vendedor deitou castanhas e sal dentro do assador e pô-lo em cima do lume. Dali a pouco as castanhas estalavam… Tau! Tau!

- Ai, são tiros? – assustou-se a Maria Castanha, porque vinha de uma terra onde havia guerra.

-Não tenhas medo. São castanhas a estalar com o calor.

Do assador subiu um fumozinho azul-claro a cheirar bem. E azuis eram agora as castanhas assadas e muito quentes que o vendedor deu à Maria Castanha e aos seus amigos.

- É bom, é. – ria-se Maria Castanha a trincar as castanhas assadas.

- Se me queres ajudar, podes comer castanhas todos os dias. Sabes fazer cartuchos de papel?

A Maria Castanha não sabia mas aprendeu. É ela quem enrola o papel de jornal para fazer os cartuchinhos onde o vendedor mete as castanhas que vende aos fregueses à porta do jardim.

 

António Torrado, Maria Castanha